Raul Caldas Filho nasceu na histórica São Francisco do Sul (SC), cidade da família de sua mãe, em 13 de setembro de 1940, mas criou-se e tem passado quase toda a sua vida em Florianópolis, com exceção de dois períodos em que morou no Rio de Janeiro, um na infância, entre 1944 e 1945, e outro quando trabalhou por quase dois anos (1967/68) na revista Manchete.
Formado em Direito, jornalista profissional, cronista e ficcionista, exerceu funções jornalísticas em setores de imprensa, relações públicas e comunicação do governo de SC em diversas administrações, a partir de 1963. Organizou também o setor de comunicação da FIESC em 1971. Já na área jurídica, atuou na Secretaria da Casa Civil e na Procuradoria Geral do Estado. Trabalhou ainda em Publicidade escrevendo textos para Propague e Exa.
Carreira jornalística
Raul Caldas Filho iniciou a sua carreira jornalística na Rádio Santa Catarina de Florianópolis em 1962, exercendo as funções de redator, locutor e programador. Um ano depois passou a ser redator e repórter do Serviço de Imprensa do Gabinete de Relações Públicas do Governo Celso Ramos, dirigido por Fúlvio Vieira. Os seus colegas de redação eram os já veteranos jornalistas Salim Miguel e Ilmar Carvalho e o também iniciante Marcílio Medeiros Filho. Nesse mesmo ano – 1963 – ele e Marcílio começaram escrever crônicas e artigos para o jornal O Estado, numa coluna a conjunta intitulada Vitral. Em 1965 substituiu Ilmar Carvalho – que se transferira para o Rio - como correspondente das publicações da Bloch Editores (Manchete, Fatos e Fotos, Jóia, Ele e Ela, entre outras) no estado de Santa Catarina. Dois anos depois foi para o Rio de Janeiro como repórter da Manchete, na época considerada a melhor revista semanal do Brasil, a convite de Arnaldo Nisquier, então chefe de reportagem e depois um dos seus diretores.
Na redação da revista ele trabalhou lado a lado com nomes já consagrados no jornalismo brasileiro como Justino Martins (o editor-chefe e chefe de redação), Joel Silveira, José Carlos de Oliveira, Raimundo Magalhães Júnior, Ledo Ivo, Jairo Régis, Teodoro Barros, Raul Giudicelli, Edson Cabral, entre outros. E reencontrou na empresa o seu ex-colega Salim Miguel, que também havia se mudado para o Rio e exercia a função de copydesk e redator da revista Fatos e Fotos. Conviveu também com representantes de uma nova geração jornalística que começava a depontar: Roberto Mugiatti, Muniz Sodré, Sérgio Augusto, Lucas Mendes, Hedyl Vale Júnior, Ricardo Gontijo e Ruy Castro. E freqüentou os gloriosos bares de Ipanema e Leblon da década de 1960 (eram tempos de regime militar, mas ainda sem a dureza do AI-5) como o Jangadeiros, o Zeppelin, o Veloso (depois Garota de Ipanema), o Antônio’s e o Garden, com sua fauna de artistas, músicos, escritores, atores, atrizes, jornalistas e boêmios, onde pontificavam figuras como Tom Jobim, Vinicius de Morais, Chico Buarque, Nara Leão, Roberto Menescal, Ronaldo Bôscoli, Ziraldo, Millôr Fernandes, Jaguar, Paulo Francis, Arnaldo Jabor, Albino Pinheiro e a grande musa da época: Leila Diniz.
Uma de suas primeiras reportagens na Manchete foi sobre a recém-criada Cidade de Deus, comunidade idealizada pelo então governador Carlos Lacerda, da Guanabara, com o objetivo de acabar com as favelas cariocas. A Cidade de Deus hoje, como se sabe, é um dos pontos mais violentos do Rio de Janeiro e serviu de tema em 2002 para o aclamado filme do mesmo nome, dirigido por Fernando Meirelles. RCF passou também algum tempo, ao lado do fotógrafo Sebastião Barbosa, realizando um trabalho na favela da Rocinha, acompanhando o dia-a-dia dos seus moradores (não tão violento quanto no início do século 21), e ficou durante quase uma semana convivendo com um grupo de beatnicks, os precursores dos hippies. Essas duas matérias alcançaram ampla repercussão.
Como repórter de uma revista de alcance nacional, viajou por diversos estados, incumbido de missões jornalísticas nos mais diversos ramos de atividade, desde pesquisas científicas em São Bernardo do Campo e no Instituto Oswaldo Cruz, ao Primeiro Festival da Canção no Rio (o do “Alegria, Alegria”, sucesso de Caetano Veloso). Esteve ainda em Barreira do Inferno, no Rio Grande do Norte, acompanhando o lançamento do primeiro foguete brasileiro (que foi um retumbante fracasso) e fez parte, por dois anos consecutivos, da equipe da revista que cobriu o Carnaval carioca. Entrevistou também gente famosa no Rio: Tom Jobim, Astrud Gilberto, Elis Regina, Chacrinha, entre outros. Essa experiência na Manchete foi para ele um verdadeiro curso de pós-graduação no jornalismo. Com a vantagem de ter sido feita na prática.
Retornando a Florianópolis, voltou a ser correspondente da Bloch Editores até 1983. Voltou também a O Estado e, durante as décadas de 1970 e 80 exerceu, em diferentes períodos, as funções de cronista, redator, repórter especial, editor do Caderno 2 e editor de Cadernos Especiais. E entrevistou diversos nomes famosos de passagem pela capital catarinense: Gilberto Gil, Paulo Autran, Ney Matogrosso, Plínio Marcos, Augusto Rodrigues, Burle Marx e Millôr Fernandes, além de políticos e personalidades estaduais. Criou, ainda, uma seção de perfis que se tornou muito popular: “Personagens da Ilha”.
Trabalhou também como repórter especial e cronista do Jornal de Santa Catarina e do Jornal da Semana. E foi chefe de reportagem do semanário Destaque (de curta duração) e um dos editores (ao lado de Beto Stodieck, o mais conhecido colunista da época) da revista Quem-SC.
De 1992 a 1994 colaborou com o Diário Catarinense, escrevendo artigos e reportagens, e entre 1995 e 1996 voltou a assinar e editar uma página dominical sob o título geral de Oh! Que Delícia de Ilha (o mesmo título do seu livro mais vendido), além de realizar matérias especiais.
A partir de 1997 passou a ser jornalista e redator free lancer.
De 2009 a 2016 escreveu crônicas mensais para a revista "Estação Aeroporto".
Atividades literárias
Raul Caldas Filho sempre gostou de ler e desde o curso primário (Escola Particular “Jurema Cavallazzi”) mostrou facilidade para escrever. A partir do curso ginasial (Colégio Catarinense) e do clássico (Instituto de Educação de Florianópolis), estimulado por professores como Emília Boos e Nereu Corrêa, e pela leitura de grandes autores da literatura brasileira e mundial, presentes na biblioteca do seu pai, começou a ensaiar os seus primeiros textos literários.
Com vinte e poucos anos começou a publicar crônicas em jornais catarinenses e, incentivado por amigos como o poeta e artista plástico Rodrigo de Haro e pelo escritor Salim Miguel, passou também a escrever contos, que, a partir da década de 1970, apareceram em suplementos e cadernos literários, inclusive de outros estados. Na mesma época participou de diversas antologias de contos, algumas de editoras paulistas e gaúchas e uma da Universidade de Dallas, Texas. Em 1973, venceu um concurso de contos promovido pelo Jornal de Santa Catarina e Academia Catarinense de Letras, com o conto A Visitante.
Em 1980, lançou o seu primeiro livro, Delirante Desterro, uma coletânea de crônicas publicadas anteriormente em jornais e revistas, e em 1984 a sua primeira obra de ficção, O Jogo Infinito. A partir daí, escreveu mais três livros de contos, dois de jornalismo e mais dois de crônicas e entretenimento, participando também de dezenove coletâneas literárias e jornalísticas. Em 2011 publicou pela Editora Insular o romance A Ilha dosVentos Volúveis, considerado pela Academia Catarinense de Letras como o destaque literário do ano nessa categoria.